Remuneração do Recém Formado: Situação Atual e Projeções Para o Futuro

Vanderlei Silva

Publicado em julho de 2009


Atenção! Os valores citados nesse artigo são de 2009. Ajuste esses valores pela inflação, para ter uma melhor ideia do que significam hoje.


Se você se formou recentemente ou está prestes a se formar, aqui vão algumas informações que poderão facilitar o seu planejamento de carreira.

Os números citados abaixo são válidos para o ano de 2.009, tomando como ponto de referência a cidade de São Paulo e grandes cidades vizinhas. Na cidade de São Paulo geralmente os salários são mais altos e vão diminuindo para cidades mais distantes de São Paulo.

Os valores mencionados neste artigo não são baseados em pesquisas ou estudos científicos. São baseados na observação prática do dia-a-dia em trabalhos de consultoria para desenvolvimento de planos de cargos e salários. Portanto, podem não corresponder a determinadas realidades específicas.

Começando pela remuneração do estagiário, também conhecida como “bolsa estágio”, o seu valor, na maioria dos casos, está entre um salário mínimo e R$ 800,00 (em 2009), podendo ser um pouco mais alto em alguns casos.

O salário de admissão, após o estágio, quando o profissional já estiver formado, deve ficar entre R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00, na maioria dos casos, dependendo da procura pela profissão no mercado e do tempo de estágio na mesma empresa. No caso de uma atividade especialista, um estagiário que já conheça bem todos os procedimentos da empresa e esteja bem treinado pode ter um salário inicial maior. Estagiários em atividades “generalistas” geralmente recebem um salário inicial menor, já que as atribuições do cargo que vão exercer não exigem conhecimento específico e o seu treinamento é relativamente mais rápido.

Um estagiário que fez estágios durante dois anos numa mesma empresa tem possibilidade de ter um salário inicial maior do que um estagiário que fez apenas seis meses de estágio.

Nessa fase inicial de carreira, depois de empregado, o cargo ocupado pelo recém formado geralmente tem a palavra Trainee no seu título. Por exemplo, Analista de Sistemas Trainee.

A primeira promoção vem depois de seis meses a um ano no cargo. O novo cargo terá a palavra Júnior no seu título. Por exemplo, Analista de Sistemas Júnior.

A partir desse ponto, a evolução da carreira dependerá de muitas variáveis, como o tipo de atividade e dimensão do quadro de pessoal da empresa, a situação da oferta e procura pelo profissional no mercado e outros fatores internos da empresa empregadora (rotatividade, crescimento da empresa etc.).

Talvez uma forma prática para se estabelecer um “guia” para o iniciante planejar sua carreira seja atrelar o tempo de formado a “salário potencial”. Salário potencial seria um salário que o profissional deveria valer no mercado, desde que ele tivesse feito uma carreira consistente, isto é, tivesse sido promovido sempre que seus conhecimentos, habilidades e desempenho estivessem compatíveis com as exigências do novo cargo.

Em valores de 2009, faz sentido dizer que, depois de um ano de atividade como empregado, o salário potencial do profissional aumenta, em média, à razão de R$ 1.000,00 por ano nos primeiros 12 anos de formado. A partir de 12 anos de formado, o salário potencial tende a aumentar num ritmo mais lendo, para a maioria dos profissionais.

Um intervalo razoável para se “medir” esse progresso salarial é de cinco anos. Uma medição anual pode não fazer muito sentido, já que a evolução salarial não é exatamente uniforme ao longo do tempo.

Por exemplo, alguém com cinco anos de formado deveria estar ganhando um salário de aproximadamente R$ 5.000,00, assumindo que terminou o primeiro ano de atividade com um salário de R$ 1.000,00. Com dez anos de atividade, esse profissional deveria estar ganhando R$ 10.000,00 aproximadamente.

Os títulos dos cargos ocupados ao longo da carreira poderão ser designados por uma das palavras abaixo:


Ano 1 - Trainee

Ano 2 - Júnior

Ano 3 - Pleno

Ano 4 - Sênior

Ano 5 - Supervisor / Coordenador / Consultor / Especialista

Ano 6 - Idem ano 5, ou Gerente em pequenas empresas

Ano 7 - Idem ano 6

Ano 8 - Gerente em empresas de porte médio

Ano 9 - idem ano 8

Ano 10 - Gerente em empresas de grande porte

Ano 11 - idem ano 10

Ano 12 - Gerente em empresas muito grandes ou Diretor em empresas de

porte médio

Ano 13 - idem ano 12

Ano 14 - idem ano 13

Ano 15 - Diretor de área em empresas muito grandes


Em algumas empresas, como as de tecnologia da informação ou outras que exijam profissionais altamente especializados, há as chamadas “Carreiras em Y”, numa referência à possibilidade de um profissional continuar crescendo profissionalmente sem precisar fazer a opção por cargos de gerência. Na opção pela carreira especialista o salário do profissional evolui seguindo os mesmos padrões de remuneração da “carreira gerencial”.

Obviamente, os tempos mencionados acima são apenas indicativos do que seria uma carreira normal dentro de uma economia que oferecesse oportunidades de emprego. No Brasil, tais oportunidades seriam mais facilmente encontradas se a economia crescesse em torno de 5% ao ano.

Mesmo com o atual marasmo econômico das duas últimas décadas no Brasil, algumas profissões especializadas, como na área de tecnologia da informação e algumas especialidades em engenharia, ainda continuam oferecendo oportunidades fantásticas de desenvolvimento profissional.

Recomendação para vestibulandos

A escolha de uma profissão que permitirá sucesso no futuro depende de o profissional ter o perfil para aquela profissão ou atividade. A escolha apenas racional com base no campo que oferece as melhores oportunidades pode não produzir os resultados futuros esperados pelo estudante.

Portanto, é importante dispensar certo tempo pesquisando o que você gosta de fazer. Pense numa atividade que você, agindo de forma natural, tenha prazer em fazer. A atividade a ser exercida no futuro deve ser uma que não seja estressante para o profissional. Se você não gosta de ver sangue, então não entre na carreira médica. Se você não gosta de números, evite a área de engenharia. Se você gosta muito de computador apenas para jogos e divertimento, pense duas vezes antes de optar por engenharia de sistemas.

Outra recomendação importante é que as melhores oportunidades estão nas carreiras especializadas, como Engenharia, Tecnologia da Informação, Marketing, Medicina etc. Fuja de cursos “generalistas”, como “Administração de Empresas” ou “Gestão de Recursos Humanos”. Tais cursos não agregam grande coisa em termos de conhecimentos e comprometem a futura empregabilidade do profissional. É triste ver um “Administrador de Empresas” num cargo de “Auxiliar Administrativo” ou “Assistente Administrativo”. Numa hipotética disputa por uma promoção, mesmo numa área “administrativa”, um especialista teria mais chances de obter a promoção do que um “Administrador”.

Como diretor ou gerente, eu iria preferir escolher um Psicólogo para o cargo de Supervisor de RH; um economista com especialização finanças para o cargo de Gerente Administrativo Financeiro; um especialista em Marketing para a área de Marketing; um Advogado para cuidar da área jurídica; um Contador para a área de Contabilidade; um Engenheiro Especializado para a área de Produção e assim por diante. (Para a área de Vendas não há escolas. A pessoa precisa nascer com essa habilidade e pode ter qualquer formação. Estimo que menos de 5% da população de profissionais se qualificam para essa atividade).

E como alguém se torna o “chefão” (Diretor, Presidente)? Geralmente, os postos mais altos são preenchidos pelo chamado processo de “seleção natural”: os mais habilidosos chegam lá, independente de formação. Na iniciativa privada, obviamente. No setor público há controvérsias.

E a questão da importância das habilidades de “liderança” e outras aptidões a ela relacionadas? Conversa fiada. Se houver dois líderes dentro de uma empresa, eles provavelmente vão discordar e brigar um com o outro em assuntos relevantes. O profissional precisa dominar as atribuições do seu cargo e apresentar o desempenho esperado. Seja o cargo de Auxiliar de Serviços Gerais ou de Presidente da empresa.

Parafraseando novamente Peter Drucker, há Presidentes de empresas que têm tanto carisma quanto um peixe morto. No entanto, suas empresas produzem resultados excelentes. Há Presidentes de empresas que encantam socialmente, mas suas empresas apresentam resultados apenas medianos. (Na citação original de Drucker, os “Presidentes” são Lincoln e Kennedy, respectivamente).


Vanderlei Silva é consultor, especializado em ajudar empresas a remunerar, incentivar e melhorar o desempenho de seus profissionais. Para contatá-lo, envie e-mail para vsilva@promerito.com.br ou ligue para 31-2516-8425, em Belo Horizonte, MG.


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